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Medidas de contenção nas indústrias

A indústria brasileira tem papel fundamental no enfrentamento da pandemia segundo o especialista em saúde e segurança do Departamento Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria), o médico do Trabalho Claudio Patrus de Campos Bello. Ele acrescenta que muitas empresas, em especial da cadeia produtiva de saúde, precisarão manter ou até ampliar seu nível de produtividade para suprir a demanda. “Para que isso ocorra sem intercorrências, é necessário que todos os profissionais de SST da empresa foquem neste momento em ações da pandemia”, ressalta.
Na avaliação dele, entre as medidas mais relevantes flexibilizadas pela MP 927 estão a possibilidade de tele trabalho ampliado e a suspensão de exigências administrativas em SST, como exames ocupacionais e treinamentos para qualificação. “O que temos observado nas indústrias é que os profissionais de SST entenderam perfeitamente a sua função e passaram a adotar medidas adicionais de proteção no ambiente de trabalho e de atuação em diferentes categorias de risco. São ações de redução do contato social, reforço à prevenção individual, como higienização frequente das mãos, desinfecção de objetos e superfícies tocados com frequência (celulares, maçanetas, corrimão, ferramentas) e etiqueta respiratória, além do isolamento domiciliar de pessoas com síndrome gripal e a adoção de estratégia especial para pessoas do grupo de risco”, lista.

INFORMAÇÃO

O Sesi tem orientado as indústrias para agirem dentro da prevenção e também promoveu webinars com especialistas falando sobre o tema. “Poucas empresas vivenciaram uma situação como essa; focamos muito em ações de contingenciamento da crise justamente para auxiliar as indústrias e os trabalhadores a se protegerem da Covid-19”, destaca.

Entre os conteúdos técnicos produzidos em tempo recorde estão: vídeos orientativos; Guia Sesi de Prevenção da Covid-19 nas Empresas; guia com orientações para campanhas de vacinação durante a pandemia; Guia de Saúde Mental em Tempos de Covid-19 e Guia Sesi para Gestores de Empresas – com recomendações para adaptar a gestão de pessoas no trabalho presencial, home office, afastamento de trabalhadores dos grupos de risco e isolamento domiciliar de casos suspeitos ou confirmados da doença.

A entidade também está oferecendo às empresas consultoria online para adequar ambientes para trabalhadores e empregadores em relação ao enfrentamento da pandemia.

PROTOCOLOS

O médico do Trabalho complementa que também foram criados protocolos internos para o manejo clínico da Covid-19 tendo como base as orientações do Ministério da Saúde, seja na modalidade presencial ou por tele atendimento. Além disso, são feitos protocolos de testagem rápida usando parceiros nacionais com tecnologia de ponta, como Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial. “A epidemiologia e a gestão de saúde populacional nunca tiveram tanta importância. Os profissionais de SST conhecem bem isso, pois têm na sua essência uma visão prevencionista. Precisamos tomar as rédeas do enfrentamento à pandemia. Os gestores precisam de decisões baseadas em conhecimentos e diretrizes técnicas e que garantam que as medidas de controle sejam efetivas. Quando tudo isso acabar, tenho a certeza que sairemos mais fortes”, afirma.

RECOMENDAÇÕES

Por sua vez, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) tem estimulado ações para manter o setor ativo e oferecido o ferramental para que as empresas possam proteger o trabalhador e sua família durante a pandemia. “A manutenção das atividades foi discutida com os sindicatos dos trabalhadores da construção civil, atendendo ao objetivo de proteger a saúde dos funcionários e manter emprego e renda”, afirma o presidente da entidade, José Carlos Martins.

As orientações da entidade, divulgadas em seu site e aos associados, reforçam a prática que já deve ser adotada nos canteiros de obra, com o uso de EPIs, luvas, máscaras, capacete, óculos, etc., mas com o acréscimo das medidas de prevenção à Covid-19. As recomendações podem ser acessadas no endereço https://bit.ly/2yvG8j6.

Falta de EPIs é problema nacional

A falta de EPIs, em especial as peças faciais filtrantes, tem sido apontada como problema grave em tempos de pandemia, principalmente, entre os profissionais da área da saúde. Conforme estudo do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), 2,6 milhões de profissionais do setor em todo o Brasil apresentam risco de contágio pelo Coronavírus acima de 50% em função da maior exposição. Segundo dados da AMB (Associação Médica do Brasil), que disponibilizou plataforma para denúncias anônimas (https://amb.org.br/epi/), eram 3.181 reclamações de falta de EPIs em estabelecimentos de saúde de 644 municípios do País desde 19 de março até 20 de abril.

Os equipamentos mais necessitados conforme dados da AMB são máscaras PFF2 (Peça Facial Filtrante) ou N95 (86%), óculos ou face shield (69%), capote impermeável (65%), gorro (44%), álcool gel 70% (35%), luvas (26%) e outros (18%). Os municípios com maior número de denúncias no mesmo período eram São Paulo/SP (375), Rio de Janeiro/RJ (181), Porto Alegre/RS (132), Brasília/DF (81), Belo Horizonte/MG (67) e Belém/PA (65).

Por meio de nota encaminhada via assessoria de imprensa, a FBH (Federação Brasileira de Hospitais), entidade que representa mais de 4,2 mil hospitais no País, registra que a escassez de EPIs nos estabelecimentos vem tendo, como consequência direta, a contaminação de alguns profissionais de saúde e o aumento do número de faltas nos ambientes de trabalho. Por isso, conforme a Federação, tem sido ampliado severamente o grau de vigilância e de cuidado com os profissionais por parte dos hospitais. “A FBH tem acompanhado atenta a situação de colaboradores, sejam funcionários dos hospitais ou terceiros, e orientado as instituições a priorizarem medidas que preservem a proteção e o cuidado com a saúde, haja vista que os estabelecimentos precisam estar preparados para um eventual aumento da curva da doença e aumento da demanda de pacientes. O grande desafio, porém, é manter o controle sobre a contenção da doença entre profissionais de saúde, já que muitos deles atuam em mais de um estabelecimento de saúde, inclusive em mais de uma cidade”, explica a nota.

DESABASTECIMENTO

No tocante à escassez de EPIs, a FBH registra que, inicialmente, o desabastecimento de insumos diante da ampliação da demanda levou a uma prática abusiva de preços no mercado de produtos, entre eles, as máscaras PFF2 e N95, as máscaras e luvas cirúrgicas e o álcool gel. “Esta prática foi combatida rigorosamente pelas entidades representativas do setor, que encaminharam um ofício aos Ministérios da Saúde e da Economia, bem como à Anvisa, apresentando algumas propostas do setor suplementar para enfrentar desafios importantes relacionados à escassez de suprimentos e à prática de preços abusivos”, pontua a FBH.

Entre as iniciativas apontadas pelas entidades, a Federação lista: esforços para liberação de cargas aduaneiras, uma vez que grande parte dos EPIs é importada; avaliação de alternativas no mercado nacional para reposição de uma possível escassez de materiais importados essenciais para o setor; possibilidade de liberação de kits alternativos para detecção da Covid-19, a exemplo do que vem sendo feito pelo FDA (Food and Drug Administration); acompanhamento e estabelecimento de ação direcionada à prática abusiva de preços em um momento de crise no País.

A Fehoesp (Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo), junto com seus sindicatos associados, também está monitorando as dificuldades relatadas pelos estabelecimentos de saúde, propondo soluções para resolver os impasses e cobrando ações dos órgãos competentes segundo seu presidente, Yussif Ali Mere Júnior. “A falta ou o aumento exagerado nos preços dos EPIs é um grande problema que enfrentamos hoje. Outra questão bastante urgente é a dificuldade que os estabelecimentos de saúde estão encontrando para fazer a aquisição desses materiais. Sabemos que a demanda aumentou muito, e a corrida pela compra de EPIs envolve todos os países”, observa.

Uma das medidas adotadas, conforme o presidente, é a participação da Federação no Comitê de Crise contra a Covid-19, formado por entidades que compõem toda a cadeia da saúde.

TELEMEDICINA

Yussif afirma que, no cenário atual, a telemedicina foi um passo importante para a segurança no ambiente hospitalar. “A autorização dada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) para uso da telemedicina, ainda que tardia, faz todo sentido no momento”, comenta. Conforme portaria publicada pelo Ministério da Saúde sobre o assunto, as ações de interação à distância podem contemplar o atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico, por meio de tecnologia da informação e comunicação, no âmbito do SUS, bem como na saúde suplementar. O atendimento deve ser efetuado diretamente entre médico e paciente por meio de tecnologia que garanta a integridade, segurança e o sigilo das informações. Tal atendimento deve ser registrado em prontuário clínico. Os médicos podem, no âmbito do atendimento por telemedicina, emitir atestados ou receitas médicas em meio eletrônico. “Estamos vendo a união de entidades de toda a cadeia assistencial, o empenho das empresas de saúde, dos profissionais que se dedicam diariamente e das nossas autoridades. A realidade imposta pela pandemia apresenta muitos desafios e, como entidade representativa, estamos atuando com rapidez para que as tensões sejam amenizadas e a sustentabilidade de todo o segmento seja garantida”, afirma o presidente da Fehoesp.

RACIONAMENTO

O coordenador do Comitê Gestor de Crise/COVID-19 do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), enfermeiro Walkirio Almeida, afirma que as reclamações da categoria relativas à carência de EPIs, em sua maioria, dizem respeito às máscaras e aos capotes impermeáveis. Acrescenta que os informes podem ser divididos em três grupos. O primeiro é da ausência total de qualquer EPI, ou seja, o estabelecimento não disponibiliza à equipe de saúde. O segundo grupo é o dos estabelecimentos que têm EPIs, mas não todos adequados para cada situação de atendimento das pessoas com suspeita ou casos confirmados da doença. E o terceiro diz respeito aos estabelecimentos que têm todos os equipamentos, mas usam estratégias de racionamento. “Isso vem gerando também insegurança e preocupação para os profissionais de enfermagem”, ressalta.

Walkirio relata que a posição do Cofen para resolver ou minimizar a questão da carência de EPIs é que o Governo Federal, a exemplo de outros países, redirecione as linhas de produção de empresas locais para produção desses materiais, “tendo em vista que não exigem domínio de alta tecnologia; é uma tecnologia simples. Com isso, deixaríamos de depender de um único grande produtor mundial desses equipamentos, que é a China”, avalia.

ALTERNATIVAS

O representante da categoria afirma, ainda, que, tanto o Cofen quanto os conselhos regionais da categoria têm adotado medidas para colaborar na minimização da falta de EPIs. “O Conselho Federal está num processo de aquisição de máscaras PFF2 com fornecedores nacionais e já obteve 100.080 unidades, que serão distribuídas nos cinco estados onde a situação está mais crítica. Já estamos negociando número ainda maior com outros fornecedores”, complementa. Relata, ainda, que a entidade também deve fechar parcerias com o setor industrial para fabricação de aventais impermeáveis aos profissionais da área da enfermagem.

Acrescenta que o Cofen e os conselhos regionais também têm feito fiscalizações para averiguar denúncias que estão recebendo e têm se reunido com as autoridades governamentais estaduais e municipais em busca de soluções para essas questões. Têm também buscado apresentar ações na justiça federal para garantir que os governos estaduais e municipais busquem as soluções e forneçam esses equipamentos aos profissionais de saúde como um todo.

Walkirio afirma que, até que a pandemia da Covid-19 seja vencida, o Brasil ainda terá um longo caminho a percorrer e é preciso considerar que os profissionais da saúde precisam ser protegidos com a maior eficiência possível, inclusive para a manutenção de seu equilíbrio emocional. “Já temos vários relatos de afastamento e mortes desses profissionais no País por causa do coronavírus. Quanto maior for o número de infectados, maior será o impacto negativo no combate da pandemia no Brasil. Pois não haverá mão de obra qualificada, com condições técnicas, para substituir aqueles que obrigatoriamente terão que ser afastados por estarem desenvolvendo sintomas da doença”, observa.

Fonte: Revista Proteção